De acordo com os resultados obtidos a partir do estudo, ficar sentado mais de seis horas por dia pode aumentar em 40% as chances de morrer nos próximos 15 anos; elevando-se o tempo para 11 horas, passa-se a ter o dobro de risco de morte num período bem menor: três anos.
Em outro estudo, também australiano, concluiu-se que os que passam a maior parte do dia na cadeira ou no sofá têm 54% mais risco de morrer de ataques cardíacos. Tal resultado foi obtido a partir de uma análise dos estilos de vida de mais de 17 mil pessoas de ambos os sexos e com mais de 13 anos. Ainda segundo o artigo, a estatística continuava válida mesmo que os participantes não fossem fumantes ou fizessem exercícios regulares.
Mas, se as atividades inerentes ao homem moderno – trabalhar no escritório, navegar na internet, jogar videogame, assistir à televisão, entre outros – acabam por “exigir” que ele fique tanto tempo sentado. O que fazer então para resolver a questão? O médico nutrólogo Nataniel Viuniski, membro do Conselho para Assuntos Nutricionais da Herbalife, que integrou o 16º Congresso Brasileiro de Nutrologia, afirma que programas de saúde pública devem se concentrar na redução do tempo que as pessoas ficam sentadas, além de estimular e proporcionar oportunidades para que os indivíduos aumentem o nível de atividade física.
Da forma que está é que não pode ficar. Os atuais modos de vida são responsáveis pela metade dos casos de morte por acidentes vasculares cerebrais e por mais de um terço dos fatores determinantes de câncer.
Segundo Cristiano Lino, professor de educação física e doutorando em ciências do esporte no Departamento de Fisiologia do Exercício da Universidade Federal de Minas Gerais, o excesso de horas sentado é de fato um problema grave. Além dos distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (Dorts), que incluem patologias como mialgias, tendinites, bursites e outras, os longos períodos colado à cadeira prejudicam a coluna, favorecem o ganho de peso e comprometem o fluxo sanguíneo, predispondo o indivíduo a uma série de problemas cardiovasculares.
Ele explica que, sentado, o indivíduo não contrai os músculos da panturrilha. E é justamente essa contração que impulsiona o sangue de volta para o coração. “Quando a pessoa fica muito tempo sentada, o retorno do sangue fica dificultado e o coração precisa aumentar a frequência cardíaca para fazer a compensação. Além disso, o sangue parado pode gerar, edemas nos membros inferiores.”
Viuniski lembra que o problema não atinge apenas os trabalhadores. Por lazer ou hobby as pessoas acabam ficando muito tempo diante do computador ou da televisão. O ideal é que elas se mexam mais e fiquem menos tempo sentadas. Se não for possível, o indicado é, no trabalho, diminuir as horas na cadeira: a cada uma hora, devem se levantar e fazer alongamentos e pequenas caminhadas no próprio espaço do trabalho (ver dicas).
Para os especialistas, embora todas as pessoas reclamem da falta de tempo, não há desculpas para não se exercitar. A meta da Organização Mundial de Saúde pode ser alcançada com uma caminhada rápida, o deslocamento para o trabalho ou para a escola. Até durante as atividades domésticas é possível se exercitar. E vale a pena. Os estudos indicam que o exercício físico tem efeitos agudos imediatos no organismo, como a redução da pressão arterial, que tende a se manter mais baixa durante um período entre 12h e 24h, e redução dos níveis de glicose. Como efeito crônico, pode-se citar a redução do risco de morte por doenças cardiovasculares, diminuição do risco de desenvolvimento de uma série de doenças crônicas e a melhora de toda a fisiologia. Há, sem dúvida, alterações sociais muito importantes, mesmo quando o exercício é feito individualmente. Os adeptos da atividade física melhoram a autopercepção da imagem, a autoestima. Com isso, há muito mais facilidade de se relacionar.
Embora a caminhada seja o exercício mais fácil e seguro e um dos mais democráticos, existem outras formas de se mexer para atingir a meta da OMS de fazer pelo menos 20 minutos de atividade física suficientemente intensa para promover cansaço.
O lazer é uma delas. O ideal é sair para dançar, pedalar no parque ou na praça. Durante os principais deslocamentos, como para ir à escola, ao trabalho ou à padaria, vá a pé. Varrer e passar pano, puxar água, catar folhas. O importante é fazer a tarefa continuamente. Em vez de varrer só um cômodo e parar, varra a casa toda e, depois, passe o pano de uma só vez.
Quem se exercita, independentemente da forma escolhida, só tem a ganhar. Segundo Nataniel Viuniski, somente a prática de atividade física, aliada à boa alimentação, poderá colocar freio no avanço das epidemias de obesidade e de doenças crônico-degenerativas. Ele acrescenta que estudos feitos em todo o mundo apontam a relação direta e favorável entre o nível de aptidão física, o grau de atividade física praticada e a saúde, evitando o surgimento de males como doenças coronarianas, hipertensão, AVC, cânceres, diabetes tipo 2, obesidade, ansiedade e depressão.
Para quem nunca praticou atividade física e deseja começar, uma dica importante é escolher bem a modalidade e ir devagar. A escolha certa vai interferir diretamente na adesão e vai aumentar a possibilidade de que o exercício realmente se transforme num hábito de vida.
Seria interessante incluir a variabilidade na escolha (praticar mais de um tipo de atividade), assim como é importante associar o trabalho aeróbico com o trabalho de força e o de flexibilidade, formando um programa completo em termos de promoção da saúde. “Mas o que deve ser ressaltado é o investimento contínuo no futuro em que as pessoas devem buscar formas de se tornarem mais ativas em suas rotinas diárias. A palavra de ordem é movimento”, completa Viuniski.
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